quinta-feira, junho 23, 2005

A divisão do sensível

A arte é elitista. Inscreve-se na ordem do supérfluo na pirâmide das necessidades. Mas, atingindo patamares de bem-estar material não quer dizer que se atinjam de igual modo patamares culturais. Assim, não há uma correspondência reflexiva entre bem-estar material e “competências” culturais.
O espaço das artes é um espaço comum que se inscreve na “divisão do sensível” de que fala Jacques Rancière. «A divisão do sensível mostra quem pode tomar parte no comum em função do que faz, do tempo e do espaço em que exerce a sua actividade. Assim, ter esta ou aquela ocupação define as competências ou incompetências relativamente ao comum. Isto define o facto de se ser ou não visível num espaço comum…»[1]
Não é, certamente, de igual modo importante para todos ver um quadro do Picasso, embora quem tenha visto, talvez possa ficar com a impressão de que seria importante muitos verem. Claro que a situação familiar, a escola, os amigos, o lugar onde se nasceu podem dotar precocemente o individuo com a aptidão para tornar a arte uma necessidade não supérflua e inteligível. Platão apontava as artes como meios indispensáveis para a educação do carácter, susceptíveis de tornarem os Homens melhores e mais virtuosos.
[1] Jacques Rancière, "Le partage du sensible. Estétique e Politique", La Fabrique-Éditions. Paris, 2000, p. 13

1 comentário:

Anónimo disse...

para mim, a arte é um sistema de símbolos: um quadrado representa qq coisa... um pedaço de barro também, quando contém em si elementos que todos partilham... o problema é q em portugal partilham-se contextos "familiares" com determinada "simbologia", sendo assim a elite ($) que vem ao de cima (internacional ou nacional eu sei lá!). penso que há questões a definir em termos políticos e de PODER.

quanto ao plano sensível... isso depende da realidade que um "contexto" procure para a sua existência. minoritário ou maioritário... a questão nunca se responde...

aliás, quantos amigos cabem em nossa casa?!